quinta-feira, 19 de março de 2009

Assassinatos do tráfico assombram crianças no México


Tragédias traumatizam as pequenas testemunhas.
Exposição à violência pode atrapalhar aprendizado e futuro.

Menino observa velas colocadas onde 12 pessoas foram encontradas mortas, em Tijuana, México (Foto: The New York Times)

Em Tijuana, México, o menininho, com seu uniforme escolar cuidadosamente passado e rodeado de amigos, levantou 10 pequenos dedos, cada um representando um corpo que ele diz ter visto do lado de fora de sua escola numa manhã recente. Mas ele ainda não tinha terminado. Ele baixou os 10 dedos e levantou outros dois. Doze corpos no total.

“Eles deceparam as línguas”, disse o menino, aparentemente fascinado com o que viu na cena da chacina em frente à Escola Primária Valentín Gómez Farías, três semanas atrás.

“Eu vi o sangue”, afirmou um colega de classe, entusiasmadamente.

“Eles estava amarrados”, acrescentou outro.

A explosão mexicana de violência relacionada ao narcotráfico ganhou a atenção das crianças do país. Peritos dizem que as atrocidades que os jovens estão escutando e, por vezes demais, testemunhando, estão tornando-os mais duros, traumatizados, preenchendo suas mentes com imagens que são duras de apagar.

“Infelizmente, com essa onda de violência das drogas, houve danos colaterais entre as crianças”, disse Jorge Álvarez Martínez, professor da Universidade Nacional Autônoma do México que se especializa em stress pós-traumático. Tal exposição à violência pode atrapalhar o aprendizado, interromper o sono e durar anos, disse ele.

Em nenhum lugar o trauma é maior do que ao longo da fronteira com os Estados Unidos, onde os cartéis de drogas enfrentam uns aos outros por um crescente mercado doméstico e as lucrativas rotas de trânsito do norte. Somente em Tijuana, uma onda de assassinatos do crime organizado deixou pelo menos 99 pessoas mortas num período de 24 dias desde 26 de setembro, uma taxa de mortes que iguala, se não ultrapassa, a de Bagdá, uma cidade destruída pela guerra que é quatro vezes maior, no mesmo período.

Ao longo do México, a carnificina é impossível de esconder, com cabeças decepadas e corpos decapitados aparecendo, algumas vezes quase uma dúzia por vez. Houve mais de 3.700 assassinatos relacionados ao tráfico e ao crime organizado neste ano, frente a 2.700 no ano passado, disse este mês o procurador-geral mexicano, com Chihuahua sendo o estado mais violento.

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